Vale o quanto faz sentido

Quatro sacolas grandes cheias. O peso não importava. A leveza estava estampada no meu rosto. Pensando bem, foi um pouco estranho adentrar o supermercado com elas. Lugar de onde estamos habituados apenas a sair abarrotados de coisas. Mas ali era um ponto estratégico de arrecadação de donativos para famílias desalojadas pelas enchentes e uma placa, que eu vira na semana passada, tinha me motivado a iniciar uma verdadeira auditoria nos armários e gavetas de casa.

Essa era uma tarefa que eu vinha me prometendo e procrastinando. Concluir hoje, com essa chuva que não deu cinco minutos de trégua, reforçou o propósito. Ajudar é bom. E, acredito, faz mais bem para a gente. E essa missão, tantas vezes adiada, acabou sendo um exercício de muita reflexão.

As gavetas de Benjamin já estavam mesmo pedindo socorro. Como as crianças crescem! Separar e organizar tudo fez-me passar um filme, em time lapse, desse ser que já se aproxima dos 6 anos de vida e muita personalidade. Ali havia algumas peças que já não serviam e outras que sequer eu o tinha convencido a usar! Ele detesta roupa minimante “arrumadinha”, ama a simplicidade e o mais difícil mesmo foi convencê-lo a se desapegar de algumas blusas furadinhas e manchadas – suas preferidas – e de duas calças “pega-frango” que já não davam para disfarçar nem com as inseparáveis galochas.

Já no meu armário, o critério de corte nem foram as mudanças de medida, mas de espírito. Algumas peças velhas permanecem enquanto outras, quase zeradas, foram-se. São de várias Anas que já não existem mais. Pertencem a outras fases ou foram compradas no impulso. Não fazem sentido. E constatar isso foi maravilhoso! Claro, só valia ir ou ficar o que estivesse em condição de uso – para mim ou para quem quer que seja a destinatária. O que não tem jeito vai para o lixo. Mas toda regra tem exceção. É o caso da bota furada que não ia poder ajudar a ninguém mas ganhou ressignificado e uma nova turma na varanda.