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Olhar virgem

  • Foto do escritor: Ana Paula Carvalhais
    Ana Paula Carvalhais
  • 16 de out. de 2019
  • 2 min de leitura

Atualizado: 17 de out. de 2019

A fita que falta para concluir o artesanato, uma peça para o fogão, o papel no atacado perto da rodoviária. Tem coisas que a gente só resolve no centro da cidade. Nem sempre é fácil encontrar tempo e disposição. Mas essa é uma incursão que vale a pena! De vez em quando, costumo juntar umas duas ou três missões assim e convidar meu filho, de cinco anos de idade. E o que era uma pequena lista de tarefas impossíveis logo se transforma em um divertido mergulho no caos.


Para ele, acostumado à rotina entre a escola e o quintal de casa, a cidade grande é uma dose cavalar de realidade mas também a certeza de muitas novidades. Geralmente, ele topa com uma condição: andar a pé e de ônibus. E mal sabe ele que esse é mesmo o melhor jeito de desbravar a rua São Paulo e adjacências!


Enquanto vou ticando a lista das tais coisas impossíveis de se resolver em outros locais, passeamos de ônibus, apresento a Igreja de São José restaurada, o misto-quente delicioso do Café Nice ou o caldo de cana da Galeria Ouvidor. Mas as sensações não se limitam ao paladar. Tem o ruído dos locutores das lojas populares, o desafio de pular uma poça, a experiência de comprar o tecido que em breve vai se transformar na fantasia de Harry Potter, Mestre Shifu ou outro personagem do momento. E tem sempre boas risadas, quilos de perguntas e o balanço do ônibus que, para ele, é como velejar sobre as ruas cheias de gente.


É um olhar ingênuo e imaginativo sobre a nossa capital e que dribla tudo o que poderia ser extremamente estressante. Na companhia de meu filho, posso ainda retomar o mesmo olhar de quando eu morava no interior e vinha a passeio com meu pai, lembrar quando me mudei para BH e sempre me perdia entre os quarteirões planejados e triangulares que nunca me levavam aonde eu queria ir, ao cruzar a Afonso Pena.


Penso que, com as crianças, a gente se permite andar no tempo delas. Observa mais, olha menos para o relógio e mais para os lados, para o alto. E passa a enxergar não só a correria, a pichação, a crescente pobreza que se abriga nas marquises. Pensando bem, não é isso que fazemos quando somos turistas na “cidade dos outros”? A gente consegue ver também mais sorrisos, mais humanidade, mais cores.


Com os pequenos, invariavelmente, as pessoas puxam mais papo, interagem, perguntam. Faz diferença ouvir da moça da loja de tecidos quais são os heróis preferidos dos filhos dela ou que a filhinha do rapaz do caixa da outra loja é só dez dias mais nova que meu filho. Quando a gente se permite um novo olhar, a cidade fica mais viva e, o concreto, até um pouco mais leve – desde que a lista também não seja exageradamente longa!


 
 
 

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© 2019 por Ana Paula Carvalhais

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