Mais cor, por favor!

O efeito das mechas se esvai. Os fios brancos, sempre mais rebeldes, ganham espaço e parecem protestar – como outras inquietações dentro e fora de mim. Não é um bom momento. Não considero urgência a ponto de buscar socorro lá fora. Tampouco arrisco alguma solução caseira. Despisto. Tento convencer o espelho de que estou apenas dando um tempo. Talvez um detox - para usar um termo da moda.

Tendência também é esmalte zero. Sinceramente, acho que não vale todo o esforço ambidestro para logo ser deposto pelo álcool gel e as infinitas lavagens de mãos, roupas e louça da temporada. Chego a achar graça quando ouço alguém falar em tédio. Creio que todos nós estejamos nos desdobrando em atividades remotas e todas as outras que envolvem uma certa cooperação para organizar a vida do nosso lar, doce lar.

Hoje completo quarenta dias totalmente em casa. Nesse número mora a origem – e não o fim - do termo quarentena. Quem se a arrisca a dizer quantos dias ainda serão necessários para tudo isso acabar? A Ciência não tem uma resposta. Quem insiste em perambular à toa, além de se expor ao risco, só arrasta a data ainda para mais longe – e atrasa a vida de todos nós. Para complicar, a pandemia à brasileira tem se mostrado mais assustadora.

A única certeza é que somos mais mutantes que o vírus. Nesse tempo já me revirei em live, pão, palestra virtual, (tentei) ovo de Páscoa, consultorias, costuras, brincadeiras e até meio puff de crochê! Mas abril se despede e sinto um certo desbotamento. Sou tomada por uma vontade imensa de retocar as cores. Não das unhas ou do cabelo – mas da alma. Tal como um tubo de spray, acho que é preciso uma boa sacudida para começar mais uma semana com fé, planos e novos tons. E é assim que vou!