top of page

Casa cheia

  • Foto do escritor: Ana Paula Carvalhais
    Ana Paula Carvalhais
  • 3 de jul. de 2020
  • 2 min de leitura

Quem também está há mais de cem dias em clausura talvez possa se identificar. Não estamos sós. Nunca! Mesmo evitando ao máximo sair de casa, tem uma turma que sempre chega para nos fazer companhia. Com ela não há máscara: são as versões de nós mesmas. Tem a sacudida, a animada, a depressiva, a criativa, a morta de cansaço... São tantos eus que a casa fica cheia!


A gente se organiza, soma e divide como pode. Tem briga também. Conflitos de agenda e de prioridades. Nocautes e arrebatamentos. Há aquela que diz “tudo vai dar certo”, “está tudo bem”, “vai passar”. E outra que desaba em lágrimas debaixo do chuveiro. Uma cidadã indignada, uma mãe compreensiva, que brinca e põe no colo e outra descabelada, exausta de mandar a cria escovar os dentes. A inspirada, criativa, esperançosa que acorda e vai murchando, aos poucos, invadida pela negativa ou pela louca da faxina, que também baixa de vez em quando.


Com o avançar da quarentena, muitas outras foram chegando. A que corta o próprio cabelo e da família inteira, a gourmet que faz pratos incríveis mas que se reveza com uma que - francamente - cozinha qualquer coisa, sem a menor inspiração. Tem a que decora texto, maquia-se e grava vídeo. E tem também aquela que já queimou a camisa preferida, deixou cair o liquidificador e quebrou espremedor de frutas. Não por não saber usar. Mas talvez porque todas as outras estivessem agitadas demais.


Meditação? Yoga? Bem que tentei. Mas a turma aqui não dá trégua. É um falatório só. Outros desejos também estão na fila - como o da atleta, que além das caminhadas, tenta emplacar alguns alongamentos. Ou quem sabe o sonho de consumo da preguiçosa que, faz tempo, anda querendo maratonar uma série ou terminar um livro no meio da tarde no meio da semana. Por que não? Bom, a dona da culpa ainda permitiu.


Mas a gente vai levando. E também lavando, escrevendo, amando... De vez em quando elas resolvem trabalhar juntas. Uma espécie de mutirão. Como hoje, enquanto torcia uma roupa e ouvia meu filho brincando no quintal. Uma história inteira brotou. Existem as encomendadas, claro, e também as que nascem como desabafo, outras para post. Essa chegou pedindo para ser livro. Meu eu criança e a versão costureira logo se animaram! E todas nós esperamos que logo venha uma novidade por aí...


ree

 
 
 

Posts recentes

Ver tudo

1 comentário


Carolina Machado
Carolina Machado
08 de jan. de 2021

que texto lindo e enxuto, um deleite de ler. como não se identificar? achei perfeito!

Curtir

© 2019 por Ana Paula Carvalhais

  • Preto Ícone Instagram
  • Black Facebook Icon
  • Black Twitter Icon
  • Black LinkedIn Icon

Amarelo Comunicação Planejada

bottom of page